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Entrevistas

Olivia Santana

Entrevista com Olívia Santana

21/11/2014 - por Mariana Barahona e Maribel Barreto

 

No contexto da celebração do Dia Nacional da Consciência Negra, a Ex-vereadora, Ex-Secretária Municipal de Educação de Salvador, Secretária nacional de Combate ao Racismo do PCdoB e Presidente Municipal do PCdoB concedeu entrevista à Humanidades Educação.

 

Qual o significado do 20 de novembro?

 

Esta data representa o reconhecimento e a valorização da nossa história de resistência e o resgate dos nossos heróis, que tiveram a audácia de enfrentar o sistema escravista. Significa ter consciência política da nossa condição de homens e de mulheres negros que enfrentam o racismo estrutural marcante na sociedade brasileira. Se temos consciência, ativamos a nossa energia transformadora para superar esse histórico cenário de desigualdade.

 

Como está a questão da Consciência Negra no Estado da Bahia?

 

Ainda está aquém daquilo que nós precisamos. Somos maioria, mas não temos uma massa crítica de milhões de baianos negros que assumam uma atitude política mais vigorosa a fim de acelerar as mudanças na estrutura social. Embora tenha havido algum avanço, ainda somos invisíveis nas estruturas de poder, nos postos de comando das grandes empresas; ainda não temos um empresariado negro significativo. Somos uma grande massa de consumidores, mas precisamos acessar posições mais significativas na estrutura social.  

 

Como você enxerga a inclusão e a diversidade no ato de celebração do Dia da Consciência Negra?

 

Esses são pontos fundamentais. Temos que valorizar a diversidade como uma riqueza do povo brasileiro, e não como fator de exclusão de uns para garantir o privilégio de outros.

 

O que a sociedade brasileira pode comemorar neste dia 20/11/2014? E quais os desafios à frente?

 

Podemos comemorar a política de cotas pra negros na universidade e no serviço público; a retirada de milhões de brasileiros, majoritariamente negros , da miséria extrema; o grande programa de habitação  Minha Casa Minha Vida, que dignifica muita gente que não tinha teto e morava na rua da desesperança... Tivemos conquistas nesses últimos 12 anos, mas muito ainda precisa ser feito.

 

Os maiores desafios estão na política de segurança pública. É preciso dar um basta neste cenário de morte de jovens negros. A taxa de homicídios para cada grupo de 100 mil jovens brancos é de 13,9; para os negros é de absurdos 72,6. É uma realidade brutal que precisa ser superada. Muitos desses jovens são vítimas, infelizmente, da violência policial. Temos que avançar para um modelo de polícia cidadã, que respeite os direitos de todos e que elimine o racismo da sua prática profissional. É necessário que o Congresso aprove o Projeto de Lei nº  4471/2012, que acaba com os autos de resistência, e também avancemos para a desmilitarização da polícia. Os militares compõem as forças armadas e são muito importantes para a defesa do país, porém, nas ruas, nós precisamos de uma polícia moderna, eficiente e que seja capaz de lidar com o cidadão, respeitando seus direitos humanos. Essa é uma questão civilizatória. Queremos a nossa juventude viva e capaz de contribuir com o desenvolvimento do país.

 

Recentemente temos vivenciado uma série de manifestações racistas no contexto do futebol. Por que tantas e com tanta frequência?

 

Na verdade sempre houve racismo no esporte. A diferença é que agora os jogadores negros têm mais consciência, sabem que existe uma legislação que criminaliza o racismo e, por isso, se sentem mais fortalecidos para enfrentar os atos de discriminação.

 

Que ações na área de educação são feitas em comemoração ao Dia da Consciência Negra?

 

São realizados seminários, debates, palestras, exposições, entre outros. Mas precisamos de atividades mais sistemáticas, durante o ano inteiro e não apenas no mês de novembro. Precisamos tratar com mais profundidade as Leis 10.639/03 e 11.645/08 para fazer da escola um espaço de difusão e de valorização das culturas negra e indígena. Garantir o conhecimento do legado dos povos africanos e dos índios do Brasil é fundamental para reeducar mentalidades e estabelecer relações sociais mais saudáveis.

 

Como podemos definir Consciência? Consciência tem cor?

 

Consciência não tem cor, mas nós temos. A sociedade nos trata como negros, nos discrimina como negros, nos inferioriza a partir da nossa descendência africana e das nossas características físicas, para mascarar algo mais profundo: a exploração e a desvalorização da nossa força de trabalho, da nossa capacidade intelectual e produtiva.  Eu, por exemplo, tenho que fazer o caminho contrário:  assumir-me como negra, valorizar a minha identidade e reagir à subjugação que me é dirigida. Temos que lutar para virar o jogo e conquistar o nosso espaço, para que um dia todos tenhamos oportunidades iguais. Afinal, somos todos humanos, o jogo do poder é o que no separa.  

 

Humanidades Educação

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